2011-02-06

Migalhas de Mim


De encontro à vidraça da minha janela, gotas de chuva reflectem o Mundo lá fora.
Daqui vejo o mar de solidão onde navego, vejo o céu onde voo em sonhos, vejo o futuro que me seduz.
Queria voar daqui para além mar, sair e encontrar-me na imperfeição das coisas de que sou feita, inverter o olhar e ver-me entre a escuridão da alma.
Na ambiguidade do querer sinto-me bem na minha pele quando vejo o meu reflexo no espelho do tempo, quando saio de mim para me contemplar através dos olhos do mundo.
Não procuro no nada o pouco que me falta, nem almejo o muito que espero dar, sento-me sobre os dias, espero que a mão do Universo me segrede ao ouvido as horas de viver, os momentos de serenar e os sorrisos que quero oferecer a cada pedaço que completo.
De rédeas soltas ao pensamento correm as fraquezas em frenesim desmesurado, em busca das forças que demais se esforçam em vão nos jogos inglórios a que me imponho.
A chuva que varre as ventanias do jardim que mantenho às portas da eternidade, lava-me as perguntas, refresca-me as memórias, limpa-me os olhos turvos e aclara-me a mente.
De sentimentos me faço, em loucuras me desfaço, em compreensões e indefinições desfolho as flores que fazem o livro que escrevo no silêncio da noite, sempre na ânsia de me encontrar entre as suas folhas.
As estrelas que não leio, são a lição, são a moral da história que não está escrita, são a inspiração que não veio a mim nos dias que não vivi, quando o Sol não nasceu e a noite caiu sobre mim.
Nesta migalha de mim dou-me o todo que já fui, nesta fatia de Vida me entrego ao Tempo, neste momento de Paz me entrego a mim...

Sem comentários: